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Sou um Jovem seguidor de Dom Bosco “Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta... Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo." Fernando Pessoa

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Homilia de Dom Fernando Guimarães, Bispo da Diocese de Garanhusn na festas de Santa Teresinha do Menino Jesus em Lisieux na França




O nosso Bispo Diocesano neste dia 25 de setembro viaja a Lisieux, na França, onde presidirá no próximo final de semana as festas de Santa Teresinha do Menino Jesus, a convite do Bispo de Bayeux-Lisieux, Dom Pierre Pican, e do Reitor do Santuário, Mons. Bernard Lagoutte. Durante os seus anos de serviço no Vaticano, Dom Fernando costumava passar parte de suas férias anuais trabalhando como voluntário no santuário de Santa Teresinha, para o atendimento de confissões e acolhida dos peregrinos, estabelecendo assim uma profunda relação de amizade com as Carmelitas descalças do convento onde viveu a Santa e também com a equipe de Capelães que assistem pastoralmente aquele Santuário.


O programa das festas prevê, no sábado dia 26 de setembro, às 20h30, a procissão com a Urna que contem os restos mortais da Santa de Lisieux, do Carmelo ao Santuário, onde ela permanecerá por toda a noite, em vigília de oração. No domingo, dia 27 de setembro, às 10h30, Solene Pontificial da festa de Santa Teresa do Menino Jesus, presidido por Dom Fernando Guimarães, e concelebrado pelo Bispo de Bayeux-Lisieux e demais Prelados presentes. Durante a Santa Missa, Dom Fernando pronunciará a homilia da qual, em seguida, damos a tradução. Após a Santa Missa, um almoço festivo reunirá as autoridades civis e eclesiásticas presentes. Às 15h30 da tarde, uma solene procissão pelas ruas da cidade trará a Urna das relíquias da Santa do Santuário à Catedral de São Pedro, onde serão cantadas as Vésperas solenes. A Urna permanecerá na Catedral, e vigília de oração. À noite, é transportada de maneira privada para o seu lugar definitivo, no Carmelo de Lisieux.


HOMILIA DE DOM FERNANDO GUIMARÃES NO PONTIFICAL SOLENE do dia 27 de setembro de 2009 (tradução do francês)


É com sentimentos de viva gratidão para com meu Irmão Dom Pierre Pican, Bispo de Bayeux-Lisieux, e para com Monsenhor Bernard Lagoutte, Reitor da Peregrinação de Lisieux, que acolhi o convite que eles me fizeram para presidir esta solenidade de Teresa. Durante mais de 20 anos, fui um fiel peregrino de Lisieux como Padre, durante meu serviço eclesial ao Santo Padre em Roma. Pela primeira vez, retorno a este santo lugar como Bispo, Sucessor dos Apóstolos. Trago comigo o amor e a veneração dos brasileiros por Teresinha e, de modo muito especial, trago comigo o afeto e a devoção – calorosa e intensa – dos padres brasileiros por Teresinha, sua irmã.


Teresa, o ano sacerdotal e a identidade dos padres


Estamos no decurso do Ano Sacerdotal, promulgado pelo Santo Padre Bento XVI para aprofundar, em todos os setores da Igreja, a consciência da identidade particular dos padres e para chamá-los todos à fidelidade em seu ministério: Fidelidade de Cristo, Fidelidade do Padre! Tenho a certeza de que Teresinha, do céu, está feliz com esta iniciativa, ela que consagrou à santificação do clero a sua vida de carmelita, até os extremos esforços dos últimos momentos de sua vida: “Caminho por um missionário!”.


Sim, ela está bem presente na vida e no ministério de numerosos sacerdotes que a consideram como uma irmã, que reconhecem sua intercessão eficaz na obra de sua santificação e no exercício daquela caridade pastoral que é a alma de todo ministério sacerdotal. Teresinha é, sem sombra de dúvida, uma daquelas figuras eclesiais que, juntamente com uma grande multidão de padres santos, devem iluminar o caminho da Igreja durante este ano: seus escritos, suas palavras, mas, sobretudo, o exemplo de sua vida são um convite forte, dirigido aos sacerdotes, a redescobrir sua identidade própria e o laço especial que os une a Cristo, Bom Pastor e Cabeça da Igreja; a Cristo, Sacerdote e Vítima.


Teresa e a santificação do clero


Tornando-se Carmelita, Teresinha viva sua vocação pondo-se a serviço da santificação dos padres: “Ó minha Madre! Como é bela a vocação que tem por finalidade conservar o sal destinado às almas! Esta vocação é o Carmelo, porque o único fim de nossas orações e sacrifícios é o de ser apóstola dos apóstolos, rezando por eles para que evangelizem as almas por suas palavras e sobretudo por seus exemplos” (Ms A, 55r). Vocação sublime, que, no entanto, deve ser vivida por homens concretos, frágeis e necessitados – também eles – da graça da qual eles são ministros para os demais. E Teresinha, na mesma veia missionária com a qual ouviu a voz de Cristo que pedia de beber e com a qual ela se dispunha a recolher espiritualmente o sangue redentor que jorrava da cruz, descobre a importância e a necessidade da oração pela santificação do clero. Ela se consagrará a conquistar almas sacerdotais para o Senhor. Com esta consciência, ela entra no Carmelo de Lisieux: “O que eu vinha fazer no Carmelo, declarei aos pés de Jesus-Hóstia, no exame que precedeu minha profissão religiosa: ‘Vim ao Carmelo para salvar as almas e, sobretudo, para rezar pelos padres’” (Ms A, 69v).


Trata-se, para Teresinha, de uma ação destinada a formar na santidade a alma dos padres, para que eles possam refletir na vida real aquilo que eles são sacramentalmente, mesmo se esta ação educadora, para a carmelita, se realiza através do amor, da oração e da vida de doação na clausura de seu mosteiro. Como declarará sua irmã Celina, no processo de beatificação: “ela chamava este tipo de apostolado fazer comércio por atacado, porque pela cabeça ela atingia todos os membros” (Processo Informativo Ordinário, vol. I, Roma 1973, p. 270).


Um segundo momento importante, nos últimos anos de sua vida, é a relação que Teresa estabelece com dois padres, por ela recebidos como irmãos espirituais: o padre Bellière, em 1895, e o padre Rouland, em 1896. Será uma relação profunda, feita de oração mas também de uma participação efetiva no ministério sacerdotal de ambos: “(O bom Deus) uniu-me pelos laços da alma a dois de seus missionários, que se tornaram meus irmãos...” (Ms C, 31v). A iminência da morte leva Teresinha à descoberta de sua missão póstuma (“Retornarei”... DE 9.7; “quero passar meu céu fazendo o bem sobre a terra”... DE 17.7). À luz desta missão póstuma, sua relação com os padres assume uma nova intensidade e uma modalidade própria: leva em consideração sua presença espiritual mas real junto a eles, partilhando seus esforços, ajudando sua santificação. Ao padre Bellière, Teresinha escreve: “prometo permanecer tua irmã lá no céu. Nossa união, longe de ser interrompida, tornar-se-á mais íntima, quando não houver mais clausura, nem grades, e minha alma poderá voar contigo até às missões mais distantes. Nossos papéis permanecerão os mesmos, a ti as armas apostólicas, a mim a oração e o amor” (LT 220). Sim, Teresinha tem consciência de sua missão junto a todos os sacerdotes! Como realiza-se, com efeito, o que ela prometeu a seu irmão espiritual o padre Bellière: “Quando meu querido irmão tiver partido para a África, eu o seguirei não mais pelo pensamento, pela oração. Minha alma estará sempre com ele e sua fé saberá descobrir a presença de uma pequena irmã que Jesus lhe deu para ser seu apoio não durante dois anos, mas até o último dia de sua vida” (LT 253).


O ano sacerdotal e a família


Um último pensamento, que julgo pertinente neste Ano Sacerdotal. Refiro-me à importância da família cristã na descoberta, no desenvolvimento e na perseverança das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. A recente beatificação de Luis e Zélia Martin, os pais de Teresinha, recorda-nos esta grande verdade: eles não são santos porque são os pais de Teresinha. Devemos dizer, ao contrário, que é porque ela teve pais santos que Teresa pôde tornar-se uma grande santa! Em sua família e com os seus pais, Teresinha aprendeu a amar os padres, a reconhecer sua identidade sacramental de configuração ontológica a Cristo Bom Pastor.


Que os Beatos Luis e Zélia ajudem nossas famílias a serem lares de amor, pequenas igrejas doméstivas, construídas sobre a fé e fiéis aos compromissos do batismo.


Conclusão


No seu realismo espiritual, Teresinha compreendeu muito bem o que ela chamava as “sublimes funções” do padre (cf. Ms A 567), seu “sublime apostolado” (RP 8,5), sua “sublime missão” (PN 40). Os padres são chamados por Jesus a se tornarem os apóstolos que evangelizam o mundo inteiro “por suas palavras e sobretudo por seu exemplo” (Ms A 56r). Eles trazem Jesus em suas mãos e o dão aos demais. Como não citar aqui sua palavra de fogo: “Sinto em mim a vocação de Padre, com quanto amor, ó Jesus, eu te traria em minhas mãos quando, à minha voz, tu descerias do céu... Com quanto amor eu te doaria às almas!” (Ms B 2v) E, no entanto, ela compreendeu também muito bem que eles são “homens frágeis e fracos” (Ms A, 56r). Apesar disso, ela continua a amá-los e reconhece que “eles têm uma extrema necessidade de oração” (Ms A 56r; RP 2,7). Quando em fevereiro de 1895, diante do Santíssimo Sacramento exposto, ela compõe sua grande poesia Viver de Amor, ela acrescenta esta oração: “Viver de amor, é, ó Divino Mestre, suplicar-te que derrames teu Fogo na alma santa e sagrada de teu Padre, para que ele seja mais puro do que um Serafim dos céus!” (PN 17,10). Alguns meses antes, no final de 1894, ela colocava na boca de Jesus estas palavras: “Gostaria que a alma do Padre fosse semelhante a de um Serafim do céu! Gostaria que ele pudesse renascer antes de subir ao altar! Para realizar este milagre, é preciso que, em contínua oração, almas se mantenham junto ao sacrário, imolando-se por mim dia após dia” (RP 2, 14-15). O mesmo refrão, na poesia As Sacristãs do Carmelo (novembro de 1896): “Devemos ajudar os apóstolos por nossas orações, nosso amor. Seus campos de batalha são os nossos, para eles nós lutamos dia após dia” (PN 40,8).


Permitam-me expressar, neste lugar sagrado e nesta circunstância tão solene, um desejo que me nasce do mais profundo do coração e de minha experiência de vida sacerdotal. Desejo propor este pensamento, talvez como um sonho: ver um dia Teresinha do Menino Jesus proclamada Padroeira dos Padres do mundo inteiro, ao lado de São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars. De um lado, o Padre que viveu radicalmente a caridade pastoral na dedicação total aa seu ministério; do outro lado, a contemplativa que se encontra e se encontrará sempre ao lado de cada padre do mundo, ajudando-o a amar Jesus e a servi-lo nos irmãos.


Amém.

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