Quem sou eu

Minha foto
Sou um Jovem seguidor de Dom Bosco “Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta... Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo." Fernando Pessoa

segunda-feira, 31 de maio de 2010

St° Agostinho:”O Pecado Vem do Livre-Arbítrio”


Pecar é sempre ato voluntário

Se a defecção que chamamos pecado assalta como febre – contra a vontade de alguém – com razão, pareceria injusta a pena que acompanha o pecador, pena que recebe o nome de condenação. De fato,o pecado é mal voluntário. De nenhum modo haveria pecado se não fosse voluntário. Esta afirmação goza de tal evidência que sobre ela estão de acordo os poucos sábios e os numerosos ignorantes que existem no mundo. Pelo que, ou se há de negar a existência do pecado ou confessar que ele é cometido voluntariamente.

Ora, quando se observa bem, ninguém nega a existência do pecado, ao admitir sua correção pela penitência e ainda o perdão concedido ao arrependido.A perseverança no pecado é considerada justamente condenável pela lei de DEUS.

Enfim, se o mal não fosse obra da vontade, absolutamente ninguém deveria ser repreendido ou admoestado(exortado). E com toda essa supressão, a lei cristã e toda a disciplina religiosa receberia golpe mortal.

Logo, à vontade deve ser atribuido o fato de se cometer o pecado. E como não há dúvida sobre a existência do pecado, tampouco se haverá de duvidar do que se segue: – que a alma é dotada do livre-arbítrio de sua vontade.

Julgou DEUS que assim seriam melhores os seus servidores – se livremente o servissem. Coisa impossível de se conseguir mediante serviço forçado e não livre.

Os Benefícios da Liberdade

Os Anjos servem a DEUS livremente, o que é proveito deles e não de DEUS. A DEUS não é necessário nenhum bem alheio, por ser soberano por si mesmo. E aquele que é gerado (o Filho de DEUS) tem nele sua própria substância, porque não é criado, mas fruto de geração.

Por outro lado, as coisas criadas necessitam do bem divino, isto é, do soberano Bem(DEUS) ou Suma Essência(DEUS). Elas diminuem no ser quando, devido ao pecado, movem-se menos na direção de DEUS. Contudo, as criaturas não são apartadas totalmente, pois nesse caso seriam reduzidas a nada. O que dispõe a alma são os afetos e o corpo as posições que ocupa,porque a alma move-se conforme a vontade e o corpo conforme o espaço.

E ao que se refere à tentação do primeiro homem por um anjo mau, não faltou aí o livre consentimento da vontade. Se ele houvesse pecado por constrangimento, não teria sido réu de delito.

Relativamente ao corpo humano, era ele excelente em seu gênero, antes do pecado. Depois porém, tornou-se débil e destinado à morte. Isto mostra quão justo tenha sido o castigo da culpa, nele tendo se manifestado mais a clemência do SENHOR que a sua severidade. Desse modo, ficamos estimulados sobre o quanto nos convém erguer nosso amor dos prazeres terrenos para a eterna essência da verdade.

Além disso, vemos se conbinarem bem a beleza da justiça e a graça da benignidade. Por nos termos deixado enganar pela doçura dos bens inferiores,deveríamos ser corrigidos pela amargura do castigo. Mas de tal maneira a divina Providência moderou o rigor de seus castigos que, mesmo sob o peso deste corpo corruptível, podemos caminhar em direção a justiça. Renunciando a todo orgulho,chegamos a submeter-nos ao único verdadeiro DEUS, sem mais confiar em nós mesmos. Basta pormo-nos em suas mãos, para que nos governe e defenda.

Assim, o homem de boa vontade, guiado pelo próprio DEUS,converte as tribulações da vida presente em instrumento de fortaleza. No meio da abundância dos prazeres e bens materiais, ele mostra e robustece sua temperança. Nas tentações, afina sua prudência. Tudo isso para não se deixar arrebatar por elas, mas se fazer vigilante e ainda mais ardente no amor pela verdade, a qual é única a não falhar.

Benefícios da Encarnação do Verbo

DEUS, por todos os meios, cuida da salvação das almas, dispondo com admirável sabedoria, das circunstâncias dos tempos. Deste tema não se deve falar senão entre pessoas de piedade perfeita.

Nenhum outro plano ajustou-se melhor em proveito do gênero humano do que este realizado pela mesma sabedoria de DEUS: – o Filho unigênito, consubstancial ao Pai e co-eterno dignou-se assumir integralmente o homem.

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós.”(Jo 1:14)

Demonstrou assim aos homens carnais e incapazes de captar espiritualmente a verdade, e escravos dos sentidos corporais, quão elevado lugar ocupa, na criação, a natureza humana. Com efeito, o Verbo não só apareceu visivelmente – pois isso poderia ter feito tomando algum corpo etéreo, ajustado e proporcionado à nossa vista. Apareceu entre os homens, como verdadeiro homem. Convinha que assumisse a mesma natureza a ser remida. E para que nenhum sexo julgasse ser preterido pelo Criador, humanizou-se em forma de varão, nascendo de uma mulher.

Cristo: Deus e Homem

Em nada, Cristo agiu com violência,mas em tudo, com persuasão e conselho. Passada a antiga escravidão, brilhou o tempo da liberdade, oportuna e salutarmente(utíl para conservar). O homem foi persuadido – como fora criado – no respeito a seu livre-arbítrio.

Cristo, por seus milagres, conquistou a fé dos homens no DEUS que é; e pela paixão, a fé na humanidade que assumia.

Assim, falando à multidão como DEUS, afastou sua Mãe, cuja chegada anuciavam (Mt 12:48). Não obstante, como ensinava o evangelho, sendo menino, viveu submisso a seus pais (Lc 2:51).

Por sua doutrina, mostrou-se DEUS; pelo crescimento na idade, mostrou-se homem.

Igualmente, antes de transformar a água em vinho, como DEUS disse: “Que temos nós com isso,mulher? Minha hora ainda não chegou.”(Jo 2:4). Mas quando chegou a hora de morrer como homem, do alto da cruz, vendo sua Mãe, confiou-a ao discípulo entre todos predileto (Jo 19:26-27).

Os povos apeteciam as riquezas com afã pernicioso,quais satélites dos prazeres. Ele, porém, quis ser pobre.

Os povos ávidos de honras e poder. Ele não permitiu que o fizessem rei.

Julgavam o maior bem ter filhos carnais. Ele não buscou matrimônio nem prole.

Fugiam aos insultos com grande soberba. Ele suportou as injúrias de todo gênero.

Tinham como intoleráveis as injustiças. E, contudo, que injustiça maior do que ser condenado, sendo Justo e inocente?

Execravam os homens as dores corporais. Ele foi flagelado e torturado. Temiam morrer. Ele foi condenado à morte. Consideravam a cruz como a mais ignominiosa(desonrosa) das mortes. Ele foi crucificado.

Com seu despreendimento, abateu o valor das coisas, cuja cobiça era causa de nossa má vida.

Com sua paciência, desviou tudo o que temíamos e evitávamos, no esforço em prol da verdade.

Nenhum pecado pode ser cometido sem apetecer as coisas que Ele aborreceu, ou sem evitar as que Ele sofreu.

Cristo: Mestre de Vida e Causa Exemplar

Toda a vida terrena de Cristo como homem, cuja natureza dignou-se assumir, foi ensino moral.

Por sua ressureição dentre os mortos, mostrou claramente que a natureza humana não se perdeu de modo absoluto. Deus tudo salva. Todas as coisas servem ao Criador, seja para castigo dos pecados, seja para a libertação do homem. Crsito mostrou também que tanto mais facilmente serve o corpo à alma, quanto mais esta submete-se a DEUS. Quando tal se realiza não só nehuma substância é má – o que seria impossível – mas nem sequer pode ela se atacada pelo mal. Este só pode vir do pecado e de suas consequências.

Essa é a doutrina cristã da natureza. Doutrina digna de total fé para os cristãos, sejam ele pouco instruídos ou doutos(sábios). Doutrina limpa de qualquer erro.

Fonte: Agostinho, Santo. De Vera Religione, A verdadeira Religião. Cap. 14 ao 16. Ed. Paulus.
site http://reporterdecristo.com/st%c2%b0-agostinhoo-pecado-vem-do-livre-arbitrio/

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Homilia de Dom Fernando Guimarães, Bispo da Diocese de Garanhusn na festas de Santa Teresinha do Menino Jesus em Lisieux na França




O nosso Bispo Diocesano neste dia 25 de setembro viaja a Lisieux, na França, onde presidirá no próximo final de semana as festas de Santa Teresinha do Menino Jesus, a convite do Bispo de Bayeux-Lisieux, Dom Pierre Pican, e do Reitor do Santuário, Mons. Bernard Lagoutte. Durante os seus anos de serviço no Vaticano, Dom Fernando costumava passar parte de suas férias anuais trabalhando como voluntário no santuário de Santa Teresinha, para o atendimento de confissões e acolhida dos peregrinos, estabelecendo assim uma profunda relação de amizade com as Carmelitas descalças do convento onde viveu a Santa e também com a equipe de Capelães que assistem pastoralmente aquele Santuário.


O programa das festas prevê, no sábado dia 26 de setembro, às 20h30, a procissão com a Urna que contem os restos mortais da Santa de Lisieux, do Carmelo ao Santuário, onde ela permanecerá por toda a noite, em vigília de oração. No domingo, dia 27 de setembro, às 10h30, Solene Pontificial da festa de Santa Teresa do Menino Jesus, presidido por Dom Fernando Guimarães, e concelebrado pelo Bispo de Bayeux-Lisieux e demais Prelados presentes. Durante a Santa Missa, Dom Fernando pronunciará a homilia da qual, em seguida, damos a tradução. Após a Santa Missa, um almoço festivo reunirá as autoridades civis e eclesiásticas presentes. Às 15h30 da tarde, uma solene procissão pelas ruas da cidade trará a Urna das relíquias da Santa do Santuário à Catedral de São Pedro, onde serão cantadas as Vésperas solenes. A Urna permanecerá na Catedral, e vigília de oração. À noite, é transportada de maneira privada para o seu lugar definitivo, no Carmelo de Lisieux.


HOMILIA DE DOM FERNANDO GUIMARÃES NO PONTIFICAL SOLENE do dia 27 de setembro de 2009 (tradução do francês)


É com sentimentos de viva gratidão para com meu Irmão Dom Pierre Pican, Bispo de Bayeux-Lisieux, e para com Monsenhor Bernard Lagoutte, Reitor da Peregrinação de Lisieux, que acolhi o convite que eles me fizeram para presidir esta solenidade de Teresa. Durante mais de 20 anos, fui um fiel peregrino de Lisieux como Padre, durante meu serviço eclesial ao Santo Padre em Roma. Pela primeira vez, retorno a este santo lugar como Bispo, Sucessor dos Apóstolos. Trago comigo o amor e a veneração dos brasileiros por Teresinha e, de modo muito especial, trago comigo o afeto e a devoção – calorosa e intensa – dos padres brasileiros por Teresinha, sua irmã.


Teresa, o ano sacerdotal e a identidade dos padres


Estamos no decurso do Ano Sacerdotal, promulgado pelo Santo Padre Bento XVI para aprofundar, em todos os setores da Igreja, a consciência da identidade particular dos padres e para chamá-los todos à fidelidade em seu ministério: Fidelidade de Cristo, Fidelidade do Padre! Tenho a certeza de que Teresinha, do céu, está feliz com esta iniciativa, ela que consagrou à santificação do clero a sua vida de carmelita, até os extremos esforços dos últimos momentos de sua vida: “Caminho por um missionário!”.


Sim, ela está bem presente na vida e no ministério de numerosos sacerdotes que a consideram como uma irmã, que reconhecem sua intercessão eficaz na obra de sua santificação e no exercício daquela caridade pastoral que é a alma de todo ministério sacerdotal. Teresinha é, sem sombra de dúvida, uma daquelas figuras eclesiais que, juntamente com uma grande multidão de padres santos, devem iluminar o caminho da Igreja durante este ano: seus escritos, suas palavras, mas, sobretudo, o exemplo de sua vida são um convite forte, dirigido aos sacerdotes, a redescobrir sua identidade própria e o laço especial que os une a Cristo, Bom Pastor e Cabeça da Igreja; a Cristo, Sacerdote e Vítima.


Teresa e a santificação do clero


Tornando-se Carmelita, Teresinha viva sua vocação pondo-se a serviço da santificação dos padres: “Ó minha Madre! Como é bela a vocação que tem por finalidade conservar o sal destinado às almas! Esta vocação é o Carmelo, porque o único fim de nossas orações e sacrifícios é o de ser apóstola dos apóstolos, rezando por eles para que evangelizem as almas por suas palavras e sobretudo por seus exemplos” (Ms A, 55r). Vocação sublime, que, no entanto, deve ser vivida por homens concretos, frágeis e necessitados – também eles – da graça da qual eles são ministros para os demais. E Teresinha, na mesma veia missionária com a qual ouviu a voz de Cristo que pedia de beber e com a qual ela se dispunha a recolher espiritualmente o sangue redentor que jorrava da cruz, descobre a importância e a necessidade da oração pela santificação do clero. Ela se consagrará a conquistar almas sacerdotais para o Senhor. Com esta consciência, ela entra no Carmelo de Lisieux: “O que eu vinha fazer no Carmelo, declarei aos pés de Jesus-Hóstia, no exame que precedeu minha profissão religiosa: ‘Vim ao Carmelo para salvar as almas e, sobretudo, para rezar pelos padres’” (Ms A, 69v).


Trata-se, para Teresinha, de uma ação destinada a formar na santidade a alma dos padres, para que eles possam refletir na vida real aquilo que eles são sacramentalmente, mesmo se esta ação educadora, para a carmelita, se realiza através do amor, da oração e da vida de doação na clausura de seu mosteiro. Como declarará sua irmã Celina, no processo de beatificação: “ela chamava este tipo de apostolado fazer comércio por atacado, porque pela cabeça ela atingia todos os membros” (Processo Informativo Ordinário, vol. I, Roma 1973, p. 270).


Um segundo momento importante, nos últimos anos de sua vida, é a relação que Teresa estabelece com dois padres, por ela recebidos como irmãos espirituais: o padre Bellière, em 1895, e o padre Rouland, em 1896. Será uma relação profunda, feita de oração mas também de uma participação efetiva no ministério sacerdotal de ambos: “(O bom Deus) uniu-me pelos laços da alma a dois de seus missionários, que se tornaram meus irmãos...” (Ms C, 31v). A iminência da morte leva Teresinha à descoberta de sua missão póstuma (“Retornarei”... DE 9.7; “quero passar meu céu fazendo o bem sobre a terra”... DE 17.7). À luz desta missão póstuma, sua relação com os padres assume uma nova intensidade e uma modalidade própria: leva em consideração sua presença espiritual mas real junto a eles, partilhando seus esforços, ajudando sua santificação. Ao padre Bellière, Teresinha escreve: “prometo permanecer tua irmã lá no céu. Nossa união, longe de ser interrompida, tornar-se-á mais íntima, quando não houver mais clausura, nem grades, e minha alma poderá voar contigo até às missões mais distantes. Nossos papéis permanecerão os mesmos, a ti as armas apostólicas, a mim a oração e o amor” (LT 220). Sim, Teresinha tem consciência de sua missão junto a todos os sacerdotes! Como realiza-se, com efeito, o que ela prometeu a seu irmão espiritual o padre Bellière: “Quando meu querido irmão tiver partido para a África, eu o seguirei não mais pelo pensamento, pela oração. Minha alma estará sempre com ele e sua fé saberá descobrir a presença de uma pequena irmã que Jesus lhe deu para ser seu apoio não durante dois anos, mas até o último dia de sua vida” (LT 253).


O ano sacerdotal e a família


Um último pensamento, que julgo pertinente neste Ano Sacerdotal. Refiro-me à importância da família cristã na descoberta, no desenvolvimento e na perseverança das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. A recente beatificação de Luis e Zélia Martin, os pais de Teresinha, recorda-nos esta grande verdade: eles não são santos porque são os pais de Teresinha. Devemos dizer, ao contrário, que é porque ela teve pais santos que Teresa pôde tornar-se uma grande santa! Em sua família e com os seus pais, Teresinha aprendeu a amar os padres, a reconhecer sua identidade sacramental de configuração ontológica a Cristo Bom Pastor.


Que os Beatos Luis e Zélia ajudem nossas famílias a serem lares de amor, pequenas igrejas doméstivas, construídas sobre a fé e fiéis aos compromissos do batismo.


Conclusão


No seu realismo espiritual, Teresinha compreendeu muito bem o que ela chamava as “sublimes funções” do padre (cf. Ms A 567), seu “sublime apostolado” (RP 8,5), sua “sublime missão” (PN 40). Os padres são chamados por Jesus a se tornarem os apóstolos que evangelizam o mundo inteiro “por suas palavras e sobretudo por seu exemplo” (Ms A 56r). Eles trazem Jesus em suas mãos e o dão aos demais. Como não citar aqui sua palavra de fogo: “Sinto em mim a vocação de Padre, com quanto amor, ó Jesus, eu te traria em minhas mãos quando, à minha voz, tu descerias do céu... Com quanto amor eu te doaria às almas!” (Ms B 2v) E, no entanto, ela compreendeu também muito bem que eles são “homens frágeis e fracos” (Ms A, 56r). Apesar disso, ela continua a amá-los e reconhece que “eles têm uma extrema necessidade de oração” (Ms A 56r; RP 2,7). Quando em fevereiro de 1895, diante do Santíssimo Sacramento exposto, ela compõe sua grande poesia Viver de Amor, ela acrescenta esta oração: “Viver de amor, é, ó Divino Mestre, suplicar-te que derrames teu Fogo na alma santa e sagrada de teu Padre, para que ele seja mais puro do que um Serafim dos céus!” (PN 17,10). Alguns meses antes, no final de 1894, ela colocava na boca de Jesus estas palavras: “Gostaria que a alma do Padre fosse semelhante a de um Serafim do céu! Gostaria que ele pudesse renascer antes de subir ao altar! Para realizar este milagre, é preciso que, em contínua oração, almas se mantenham junto ao sacrário, imolando-se por mim dia após dia” (RP 2, 14-15). O mesmo refrão, na poesia As Sacristãs do Carmelo (novembro de 1896): “Devemos ajudar os apóstolos por nossas orações, nosso amor. Seus campos de batalha são os nossos, para eles nós lutamos dia após dia” (PN 40,8).


Permitam-me expressar, neste lugar sagrado e nesta circunstância tão solene, um desejo que me nasce do mais profundo do coração e de minha experiência de vida sacerdotal. Desejo propor este pensamento, talvez como um sonho: ver um dia Teresinha do Menino Jesus proclamada Padroeira dos Padres do mundo inteiro, ao lado de São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars. De um lado, o Padre que viveu radicalmente a caridade pastoral na dedicação total aa seu ministério; do outro lado, a contemplativa que se encontra e se encontrará sempre ao lado de cada padre do mundo, ajudando-o a amar Jesus e a servi-lo nos irmãos.


Amém.

Beatificados: Luís Martin e Zélia Guérin, pais de Sta. Terezinha do Menino Jesus.




Beatos Luís (1823-1894) e Zélia Martin (1831-1877)

Bem-aventurados Luís e Zélia
“O Bom Deus me deu um pai e uma mãe mais dignos do Céu que da terra” Santa Teresinha (Carta de 26.7.1897)
Realizou-se na Basílica de Lisieux, na França, na manhã do dia 19 de outubro de 2008, domingo, entre 12.000 e 15.000 católicos de vários países participaram da cerimônia de beatificação de Louis e Zélie Martin, os pais de Santa Teresa do Menino Jesus. O rito foi presidido pelo bispo de Bayeux-Lisieux, Dom Pierre Pican.
A fórmula de beatificação foi proferida pelo prefeito emérito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal José Saraiva Martins.
BIOGRAFIA:
Ele era relojoeiro; ela rendeira: de origem burguesa, santos por eleição. São eles: Luís Martin (1823-1894) e Zélia Guérin (1831-1877) os pais de Teresa do Menino Jesus. É o segundo casal de esposos depois de Luís e Maria Beltrame Quattrocchi, beatificados em 2001 por João Paulo II que é elevado às honras dos altares.

Ambos eram filhos de militares e foram educados num ambiente disciplinado, severo, muito rigoroso e marcado por um certo jansenismo ainda rastejante na França da época. Os dois receberam uma educação de cunho religioso: nos Irmãos das escolas cristãs, Luís; nas Irmãs da adoração perpétua, Zélia. Ao terminar os estudos, no momento de escolher o próprio futuro, Luís orientou-se para a aprendizagem do ofício de relojoeiro, não obstante o exemplo do pai, conhecido oficial do exército napoleónico. Zélia, inicialmente, ajudava a mãe na administração da loja de família. Depois, especializou-se no “ponto de Alençon” na escola que ensina a tecer rendas. Em poucos anos os seus esforços foram premiados: abriu uma modesta fábrica para a produção de rendas e obteve um discreto sucesso.

Ambos nutrem desde a adolescência o desejo de entrar numa comunidade religiosa. Ele experimentou pedir para ser admitido entre os cónegos regulares de Santo Agostinho do hospício do Grande São Bernardo nos Alpes suíços, mas não foi aceite porque não conhecia o latim. Também ela tenta entrar nas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, mas compreende que não é a sua estrada.

Durante três anos Luís vive em Paris, hóspede de parentes, para aperfeiçoar a sua formação de relojoeiro. Naquele período foi submetido a muitas solicitações por parte do ambiente parisiense impregnado de impulsos revolucionários. Aproximou-se até de uma associação secreta, mas afastou-se imediatamente. Insatisfeito com o clima que se respirava na capital, transferiu-se para Alençon, onde iniciou a sua actividade, conduzindo até à idade de 32 anos um estilo de vida quase ascético. Entretanto, Zélia, com a receita da sua empresa, manteve toda a família, vendendo rendas para a alta sociedade parisiense. O encontro entre os dois acontece em 1858 na ponte de São Leonardo em Alençon. Ao ver Luís, Zélia percebeu distintamente que ele seria o homem da sua vida.

Após poucos meses de noivado, casam. Conduzem uma vida conjugal no seguimento do Evangelho, ritmada pela missa quotidiana, pela oração pessoal e comunitária, pela confissão frequente, pela participação na vida paroquial. Da sua união nascem nove filhos, quatro dos quais morrem prematuramente. Entre as cinco filhas que sobreviveram, está Teresa, a futura santa, que nasceu em 1873. As recordações da carmelita sobre os seus pais são uma fonte preciosa para compreender a sua santidade. A família Martin educou as suas filhas a tornar-se não só boas cristãs mas também honestas cidadãs. Aos 45 anos Zélia recebe a terrível notícia de que tinha um tumor no seio. Viveu a doença com firme esperança cristã até à morte ocorrida em Agosto de 1877.

Com 54 anos, Luís teve que se ocupar sozinho da família. A primogénita tem 17 anos e a última, Teresa, tem 4 e meio. Então, transferiu-se para Lisieux, onde morava o irmão de Zélia. Deste modo, as filhas receberam os cuidados da tia Celina. Entre os anos de 1882 e 1887 Luís acompanhou as três filhas ao carmelo. O sacrifício maior para ele foi afastar-se de Teresa que entra para as carmelitas com apenas 15 anos. Luís foi atingido por uma enfermidade que o tornou inválido e que o levou à perda das faculdades mentais. Foi internado no sanatório de Caen. Morreu em Julho de 1894.

O MILAGRE: Pietro Schilirò, quinto filho de Valter e Adele Leo nasceu em 25 de maio de 2002 no hospital Saint-Gérard de Monza, na Itália. Da sala de parto foi levado imediatamente para a unidade de tratamento intensivo por uma grave insuficiência respiratória. Foi entubado e conectado a um respirador. Em 3 de junho, os médicos lhe declararam em perigo de morte. Seus pais chamaram o Pe. Antonio Sangalli, carmelita, de Monza, para batizar Pietro com urgência, e assim o fez. Com o consentimento de seus pais, realizou-se uma biopsia no bebê em 6 de junho para propiciar um diagnóstico. Isso implicava um grande risco para o pequeno Pe. Sangalli propôs então a seus pais, que conhecia desde há anos, que rezassem uma novena a Louis e Zélie Martin, e eles aceitaram, pedindo a numerosos parentes e amigos que se unissem a eles. O resultado da biopsia não foi bom. Contudo, os médicos se surpreenderam ao constatar que o menino suportava a ventilação dos pulmões sem sucumbir. O doutor D’Alessio, cirurgião do hospital de Legnano (Milão), declarou que o exame macroscópio se apresentava nas piores condições e que, em sua opinião, o estado de Pietro era desesperador. O doutor Capellini, do hospital de Monza, depois de examinar seu histórico, falou de uma má formação congênita devido a um insuficiente amadurecimento pulmonar. O doutor Zorloni advertiu a família do quadro mortal e que se extrairiam mostras post portem do recém-nascido para os exames futuros. A família e seus amigos começaram uma segunda novena. Em 13 de junho, após a oração do rosário, Pe. Sangalli reiterou o pedido a Louis e Zélie Martin para fazer-lhes conhecer a vontade de Deus e para curar o menino. Em 2 de julho, o respirador foi retirado do bebê e em 27 abandonou o hospital. Tinha 33 dias. Em 14 de setembro, Pietro foi levado à paróquia de Monza para receber os ritos complementares ao batismo em presença de 400 pessoas que deram graças. Muitos médicos aconselharam seus pais que uma comissão da Igreja examinasse o caso de seu filho. De 31 de dezembro de 2002 a 3 de janeiro de 2003, a família Schilirò, com Pietro, de sete meses; o padre Sangalli, que se converteu em vice-postulador da causa dos esposos, e um grupo de peregrinos italianos foram a Lisieux para agradecer. Em 10 de junho de 2003 (após a intervenção de dezenas de testemunhos, entre eles sete médicos), na capela do arcebispado de Milão, o cardeal arcebispo reconheceu a origem milagrosa desta cura. Bento XVI, em uma carta de preparação do VI Encontro Mundial das Famílias, apresentou Marie Zélie Guérin e Louis Martin como “modelos exemplares de vida cristã para as famílias de hoje”.

Primeira festa litúrgica dos pais de Santa Teresinha
LISIEUX, julho de 2009.

O arcebispo de Milão, o cardeal Dionigi Tettamanzi, presidiu, neste domingo, 12 de julho de 2009, em Lisieux, França, a primeira festa litúrgica dos esposos Louis (1823-1894) e Zélie (1831-1877) Martin. O cardeal Tettamanzi foi quem iniciou o processo para examinar a cura inexplicável de um bebê, Pietro Schilirò, de Monza, aprovada pela congregação romana para as causas dos santos para o processo de beatificação. O reitor do santuáio de Lisieux, Dom Bernard Lagoutte, também convidou as famílias a participar desta celebração, com o conselho do pai de Teresa: “Seja feliz”. A missa aconteceu às 10h30 na basílica do Santuário de Lisieux. A data de 12 de julho foi escolhida para celebrar a festa litúrgica dos esposos Martin por ser o aniversário de seu casamento, em Alençon, à meia-noite de 12 de julho de 1858, na igreja de Notre-Dame.

Beato Luis e Zélia Martin, rogem por nós!

Santa Terezinha, rogai por nós!

FONTES: http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints, http://casaiscarmelitas.blogspot.com/

ADOTE UM PADRE



Dom Murilo S.R. Krieger, scj (Arcebispo de Florianópolis)

A vida dos sacerdotes sempre foi exigente. E nem poderia ser diferente, já que são chamados a continuar a missão de Cristo, o Bom Pastor. Em nossos tempos, porém, os desafios se multiplicam e exigem respostas sábias, decisões imediatas e constantes posicionamentos sobre os mais diversos temas. Portanto, quanto mais santo e sábio for o presbítero, mais e melhor servirá a Igreja. Além disso, como a vocação sacerdotal é um dom de Deus não só para aquele que é seu primeiro destinatário, mas para a Igreja inteira, um bem para sua vida e missão, toda a Igreja é chamada a proteger esse dom, a estimá-lo e a amá-lo. Dito isso com palavras do saudoso Papa João Paulo II: “Todos os membros da Igreja, sem exceção, têm a graça e a responsabilidade do cuidado pelas vocações” (PDV, 41). Essa responsabilidade sempre foi cultivada na Igreja. Prova disso é, entre outras coisas, o apelo constante para que todos rezem não só pelo aumento das vocações, mas também para a santificação daqueles que já são padres. Sempre houve na Igreja grupos, comunidades e associações com o propósito principal de rezar pelos sacerdotes.

É nessa linha que se entende a sugestão que agora apresento: ADOTE UM PADRE! Dentre os sacerdotes que você conhece ou que atuam na Igreja, escolha um deles, e passe a rezar diariamente por sua santificação. Ofereça sacrifícios para que ele exerça bem seu ministério. De preferência, nunca lhe fale sobre isso, nem faça comentários a esse respeito com outras pessoas. Os detalhes dessa “adoção” sejam conhecidos somente por você e pelo Bom Pastor. Guarde esse segredo cuidadosamente em seu coração, mas seja fiel a ele, dia por dia. Fazendo isso, você estará respondendo a um apelo da Igreja, que constantemente nos recorda: “Todo o Povo de Deus deve incansavelmente rezar e trabalhar pelas vocações sacerdotais” (PDV, 82). Sua resposta ao apelo de adotar um padre determinado terá uma particularidade: você não estará rezando somente pelo clero em geral, mas por um padre com um nome e um rosto, o que, certamente, motivará ainda mais suas orações, jejuns e sacrifícios. E, tenha certeza:

COM A SANTIFICAÇÃO DE SEU “ADOTADO”, TODO O CLERO SE SANTIFICARÁ. DEUS, ENTÃO, SERÁ MAIS GLORIFICADO. E O POVO DE DEUS, MAIS E MAIS SE ENRIQUEÇERÁ.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O crucifixo do Haiti



O crucifixo do Haiti
Pe. Francisco Agamenilton Damascena
Vice-reitor do Seminário Diocesano São José
Uruaçu - GO

Acabo de ver a imagem do Crucifixo da Igreja Sacre Coeur du Tugeau, no Haiti, exibida pelo Fantástico, programa da Rede Globo. O templo sagrado desabou e restou aquele Crucifixo, quase intacto, grande, erguido, exposto aos olhares que banham de lágrimas as noites haitianas. As pessoas param em frente a ele, choram e rezam. Esta imagem provoca o ser pensante. Por que foi assim? Por que aquele Crucifixo resistiu ao equivalente a 30 bombas nucleares como a de Hiroshima? E Cristo ficou ali. Parece ser aquela Sexta-Feira Santa, em Jerusalém, no alto do Calvário.

Pus-me a pensar e contemplar a chocante cena. Abri as Sagradas Escrituras e pus-me a ouvir o Senhor. O Filho do Homem permaneceu naquele lugar, representado pela imagem, para dizer aos sofredores haitianos que eles não estão sozinhos. Jesus Cristo está crucificado com eles e eles com Cristo. “Suas dores são minhas dores; suas lágrimas são minhas lágrimas; seu sangue é o meu sangue. Estou na cruz desp ido, como vocês que agora se encontram despidos de tantos bens.” Como disse o Profeta Isaías: “a verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores” (Is 53,4).

Os braços do Filho de Deus permaneceram abertos em Porto Príncipe para acolher o clamor de homens e mulheres transpassados pela lança da destruição, da fome, da sede, da perda de esperanças. O lado aberto do Cordeiro de Deus ficou ali, às margens da rua destruída, para dar descanso e consolo aos que ainda gritam por socorro debaixo dos escombros de uma cidade cujo concreto tombou sobre vidas cheias de sonhos. “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). O Crucificado resistiu às forças cósmicas para dar refúgio e abrigo aos que vagueiam pelas ruas sem destino.



O Crucifixo do Haiti foi mais forte que o terremoto para manter viva na mente e coração dos que por aquela rua passarem a boa notícia: “prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão” (Jo 15,13). Ali ficou uma imagem sagrada feita de matéria, porém, ao seu lado, ficaram os corpos de homens e mulheres, que viveram até o fim o Mandamento Novo. Eles foram imagens vivas do Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas.



Trata-se da Dra. Zilda Arns e quinze sacerdotes presentes naquela igreja no momento da tragédia. Eles estavam juntos porque queriam amar intensamente as crianças daquela nação que esperavam por vida e vida em abundância. O Crucifixo do Haiti permanece erguido e o Espírito de Deus fala aos corações das pessoas de bem que salvam aquela sofrida gente. “Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; ... Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 35-36.40).


O Crucificado ressuscitou e enviou do Pai o Espírito Santo renovando todas as coisas. Ele ficou naquela destruída rua para dizer: “Coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). Em meio ao caos da maior tragédia enfrentada pela ONU, há esperança, a luz dissipa as trevas em cada pessoa resgatada com vida, e em cada criança amparada. E o brilho volta a resplandecer nos olhos que agora choram os mortos. É a força criativa e reconstrutora do Amor estampada no Crucificado do Haiti.
Fonte: www.diocesedeuruacu.com.br

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Resumo Estréia 2010

Resumo

Estréia 2010

“Senhor, queremos ver Jesus” A imitação de Padre Rua, como discípulos autênticos e apóstolos apaixonados, levemos o Evangelho aos jovens.

A Estréia de 2010 é um verdadeiro programa espiritual e pastoral, ela nos ajudará a fortificar nossa identidade salesiana, revigorar nossa comunhão de mente e coração, inserir-nos na igreja como “discípulo e apostolo” para a construção do Reino e a transformação do mundo. Sendo assim anunciar o Evangelho aos jovens e leva-los ao encontro pessoal com o Senhor Jesus. Queremos assumir o desafio de ajudar os jovens a “olharem para os outros não mais apenas com os próprios olhos e com os próprios sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo”. É verdade, nós somos salesiano e, como tais, realizamos a nossa missão de evangelizar educando e educar evangelizando, elas estão a serviço da construção da pessoa humana para levá-la à plenitude de Cristo. A evangelização por sua vez tem em si mesma um intenso valor educativo, justamente porque buscar a transformação humana da mente e do coração. “Percebemos a evangelização como a principal urgência da nossa missão, conscientes de que os jovens têm o direito de ouvir o anúncio da pessoa de Jesus como fonte de vida e promessa de felicidade no tempo e na eternidade”. O Cenáculo, lugar onde os apóstolos se encontram todos juntos, não é uma morada estável, mas uma base de lançamento. O Espírito os transforma de homens medrosos em ardorosos missionários que, repletos de coragem, levam pelas estradas do mundo o alegre anúncio de Jesus Ressuscitado. Maria foi a primeira evangelizada e se tornou a primeira evangelizadora.A vocação de todos cristão é ser discípulo que acolhe cordialmente a Palavra de Deus e apostolo que a transmite com alegria. Somos chamados a ser evangelizadores. Podemos responder a ordem do Senhor na família, no trabalho, em nossas comunidades, com as ações e as palavras. Evangelizar significa lançar o fermento com uma energia capaz de mudar a mentalidade e o coração das pessoas e, por meio deles, as estruturas sócias, de modo que estejam mais de acordo com o plano de Deus. “Só o ministro do Evangelho - leigo ou consagrado - que tenha em seu coração o Evangelho feito objeto de contemplação e motivo de oração conseguirá mantê-lo nos lábios como tesouro sobre qual falar e a terá nas mãos como dever ineludível a comunicar”. O discípulo acompanha Jesus para facilitar o encontro com Ele daqueles que querem ver. E assim que o discípulo de Jesus se faz também apóstolos: Jesus precisa de discípulo, companheiro de vida e de missão, para o discípulo de Jesus converte-se em apóstolo dele. Discernir o verdadeiro desejo de “ver Jesus” entre tantas aspirações da juventude de hoje é, para nós, membros da Família Salesiana, o motivo senão o único ao menos o fundamental para ser verdadeiros apóstolos de Cristo. Se nós não o fizermos, quem apresentará a Jesus as sonhos e a as carências de jovens? Quem fará ver Jesus aos jovens? Os membros da Família Salesiana são chamados a escutar o anseio dos jovens de encontrar Jesus e, ao mesmo tempo, ler a situação juvenil de modo a evidenciar o desejo dos jovens de se aproximarem de Jesus. Esse é o nosso de ajudar Jesus a salvar os jovens hoje. E é assim que nós nos fazemos seus verdadeiros companheiros e apóstolos. Para fazer os jovens verem Jesus, é preciso conhecê-lo, viver com ele, se um dos seus. Ou, com outras palavras, não se pode ser testemunha e apóstolo de Jesus, se não se for antes discípulo. Apóstolo, de fato, não é quem o quer, mas quem é chamado. Deparar-se com Jesus não significa, imediatamente, encontra-lo. Ter-se “deparado” com Jesus, numa experiência religiosa densa que suscita grande alegria e entusiasmo, nem sempre leva á fé, ao encontro autêntico com o Senhor porque, como na parábola da semente (cf. Mc 4), o terreno no qual ele cai não está preparado. Se quisermos evangelizar hoje, além de dar prioridade ás urgências da evangelização, devemos renovar a pastoral. O testemunho é elemento fundamental da ação pastoral. A evangelização também exige que se dê atenção aos diversos contextos. Deve-se reserva uma atenção particular á família, sujeito originário da educação e primeiro espaço de evangelização. Somos enviados por Jesus a realizar seu mesmo ministério e sua mesma obra, mas com o rosto sorridente de Dom Bosco e a determinação do padre Rua. Ele foi discípulos e apóstolos de Jesus nos passos de Dom Bosco, do qual ele foi o primeiro sucessor, foi fidelíssimo, por mais humilde que e, ao mesmo tempo, o mais valoroso filho de Dom Bosco. “Sucessor de Dom Bosco, isto é, continuador: filho, discípulo, imitador... Fez do exemplo do Santo uma escola, da sua vida uma história, da sua regra um espírito, da sua santidade um tipo, um modelo; fez da fonte, uma corrente, um rio”. Miguel estendera a mão a Dom Bosco para receber uma medalhinha. Em vez da medalha, Dom Bosco oferecera-lhe a mão esquerda, enquanto com a direita fazia o gesto de cortá-la ao meio, “Nós dois faremos tudo meio a meio”. Começou assim aquele formidável trabalho conjunto entre Mestre santo e o discípulo que fazia meio a meio com ele, tudo e sempre. A Família Salesiana teve sua origem em Dom Bosco; no padre Rua, a sua continuidade. Sua fidelidade a Dom Bosco não é estática, mas dinâmica. Ele percebe realmente o fluir do tempo e das necessidades da juventude e, sem temor, expande a obra salesiana. Eis agora alguns passos úteis a dar, de modo que os grupos da Família Salesiana se empenhem em levar o Evangelho aos Jovens. Suscitar a colaboração da Família Salesiana em nível inspetoria e local, para realizar a missão juvenil, envolvendo os próprios jovens como evangelizadores dos jovens. Valorizar as Exortações Apostólicas à conclusão dos Sínodos continentais. No caso da América Latina, aderir à “Missão continental“ programada pela Assembléia dos Bispos realizada em Aparecida. O Padre Pascual Chaves, concluiu a estréia com uma narração de um comentário feito pelo padre Joseph Grunner, Inspetor da Alemanha, ao quadro de “Dom Bosco manejador de marionetes”, pintado pelo artista-sacerdote Sieger Koeder. O quadro mostra um Dom Bosco evangelizador, sinal de amor de Deus aos jovens; educador rico de idéias; um catequista apaixonado; um pai misericordioso com seus jovens. Sendo anunciador do evangelho no mundo, onde é testemunho que convida. Como discípulos enamorados de Jesus e testemunhas e apóstolos convictos e alegres, levemos o evangelho aos jovens.
Natal,fevereiro de 2010
José Renato da Silva

Mensagem do Reitor-Mor aos Jovens

“QUEREMOS VER JESUS”
Mensagem do Reitor-Mor
ao Movimento Juvenil Salesiano
(Articulação da Juventude Salesiana)
No centenário da morte do padre Miguel Rua
Roma, 31 de janeiro de 2010

Caríssimos Jovens,
aqui estou, fiel ao nosso encontro, por ocasião da festa de Dom Bosco, "pai e amigo dos jovens". O nosso encontro deste ano, que lamento seja apenas virtual, embora não menos verdadeiro e autêntico, coincide com o início do centenário da morte do padre Rua, primeiro sucessor de Dom Bosco e, sem dúvida, o seu discípulo mais fiel e mais bem sucedido.
Esta é, de fato, uma das principais motivações para a escolha do tema da Estreia, oferecida a toda a Família Salesiana para 2010: "À imitação do Padre Rua, como discípulos autênticos e apóstolos apaixonados, levemos o Evangelho aos jovens".
Pois bem, quero ser o primeiro a acolher o programa espiritual e pastoral da Estreia e, por meio desta mensagem, à maneira de diálogo entre nós, oferecer-lhes o evangelho com o desejo de fazê-los ver Jesus, para que também vocês possam ser seus discípulos, testemunhas e apóstolos.
Quando nos encontramos, percebo, com frequência, o grande desejo que vocês têm de encontrar o Senhor. Talvez não consigam exprimir esse desejo com clareza, mas, em todo caso, percebo esse mais profundo anseio, que mora no coração de vocês. Tomo-os, então, pela mão e levo-os ao meu Mestre, ao meu Senhor e meu Deus.

"Padre Pascual, queremos ver Jesus!"
Se o querem, realmente, devem ter bons pés e ouvidos atentos. Porque Jesus caminha. E nunca se detém! Para encontrá-lo, devem ouvir o canto dos grãos de areia levantados pelos seus pés. Tudo se torna novo à sua mensagem, e a sua passagem não tem fim.
Ele está sempre um passo à frente, e a sua palavra é como ele: está sempre em movimento, ilimitado no ato de dar tudo, de dar a conhecer tudo de si mesmo. Passaram-se dois mil anos, mas parece que faz pouco tempo que ele passou. A história ainda estremece pela sua passagem, como depois da explosão de uma bomba. E o mundo não é mais o de antes. Ninguém jamais falou de Deus como este homem, ninguém nos amou como ele, ninguém se entregou totalmente como ele, até aniquilar-se. Ninguém como ele deu ordens ao vento e ao mar, aos espíritos maus que atormentam e destroem no homem a melhor parte da sua humanidade; ninguém como ele derrotou a morte e venceu o pecado. Ele é diferente de todos os outros.
Por isso, muitos o odeiam como são odiados os que não se acomodam ao pensamento dominante.
"Eu não tenho onde dormir quando desce a noite. Não tenho um esconderijo se alguém me persegue. As raposas têm suas tocas, os pássaros, o seu ninho; eu vivo sem proteção, entre perigos e ameaças. Quem anseia caminhar segundo os métodos usuais, não encontra em mim o que procura".
Àqueles a quem encontra, ele diz: "Chegou a hora de mudar!".
"Deus está aqui entre vocês, e nada e ninguém mais poderá detê-lo".

"Ele é aquele a quem procuramos. Vá, leve-lhe o nosso pedido"
Não é preciso. Ele sabe o que vocês querem. Às margens do lago, o povo o rodeia e lhe pergunta: "Qual é a sua mensagem?". Jesus contempla os pescadores que estão a lançar suas redes. A resposta é muito diferente de quanto poderíamos esperar. Não faz um comício nem uma conferência, mas diz: "Venham! Por que continuam a pescar? Salvem aqueles que estão a se afogar, homens e mulheres, com a água no pescoço! Preciso de vocês! Quero fazer de vocês, pescadores de homens".
Deixam as redes, a barca, os pais, mulheres e filhos. Vão com ele. "Querem saber realmente quem sou eu? Caminhem comigo e terão a resposta!" diz Jesus. É preciso coragem para remar contra a corrente. É desagradável deixar a tranquilidade preguiçosa dos dias sempre iguais e iniciar uma nova caminhada.
Certo dia, um jovem como vocês vai à procura de Jesus e pergunta-lhe: "Mestre, o que devo fazer para ser como Deus me quer? Conte-me o segredo da felicidade!".
Jesus responde: "Você conhece os mandamentos de Deus: Não matar. Não cometer adultério. Não roubar. Não jurar em falso. Honre seu pai e sua mãe".
"Mestre – replicou o jovem – tudo isso eu tenho respeitado rigorosamente desde a minha mais tenra infância". Jesus olha-o com amor e diz: "Só lhe falta uma coisa para chegar à meta: vá até sua casa, venda todos os seus bens e dê o que lucrar aos pobres. Depois, venha e siga-me". O jovem, porém, ficou triste e foi embora.
Seguir Jesus não significa tomar "uma" decisão. Significa tomar "a" decisão. Significa arriscar tudo tendo apenas uma cartada em vista. Significa assumir como própria a decisão tomada por ele a nosso respeito: "Garanto-lhes que não há amor maior do que este: dar a vida pelos amigos".
E para deixar tudo muito claro, tudo muito concreto, Jesus dá sua explicação com duas parábolas: "O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem encontra-o e esconde-o; vai depois, cheio de alegria, vende todos os seus bens e compra aquele campo. O reino dos céus é também semelhante a um mercador que procura pérolas preciosas; quando encontra uma pérola de grande valor, vai, vende todos os seus bens e a compra".
Jesus chega ao paradoxo: em outra parábola, ele elogia um administrador infiel e desonesto, culpado de falsidade em ato público, fraude, apropriação indébita e corrupção. Só para fazer notar que aquele homem é previdente: esforça-se para garantir o próprio futuro. É desonesto, mas segue com coerência uma linha muito reta: mira sem escrúpulos ao próprio proveito.
Caros jovens, Amigos meus e de Dom Bosco, vocês não podem viver sem saber o que realmente tem valor, sem saber qual é o sentido da vida. Porque a vida é tudo o que vocês têm.
A única cartada segura que vocês podem ter em vista, arriscando tudo, é justamente Ele, Jesus.

"Padre Pascual, o Reino de Deus não é para nós. É algo muito elevado e difícil"
Se Jesus o ama e o chama, você pode levantar-se, pode caminhar! Pode mudar de direção, iniciar um novo caminho. Basta saber que é amado por Ele, sentir-se amado e querer ser amado. Basta mudar os seus hábitos, repensar as suas convicções. Assim fizeram os primeiros discípulos: chamados um a um pelo nome, eles o seguiram sem demora.
Há na vida de todo homem um dia, uma hora que deixa uma lembrança inesquecível. É o momento em que acontece alguma coisa de novo, é o momento em que a vida muda radicalmente. "Era por volta das quatro horas da tarde", recorda João, quando encontraram Jesus.
Deus – e a Escritura nos dá muitos testemunhos disso – faz suas escolhas sem olhar para bens, dotes ou qualidade pessoais; antes, paradoxalmente, ele escolhe muitas vezes os mais fracos, os pobres, os ignorantes do mundo. Às vezes, ele chama de modo impetuoso, quase violento: é o caso de Paulo, lançado à terra na estrada de Damasco. Com frequência, porém, ele o faz de forma simples e persuasiva.
Na maioria das vezes, quando Deus quer chamar alguém, ele se serve da mediação humana: o Batista para André e João, André para o seu irmão Simão, Filipe para Natanael. Foi assim naquele tempo...! E hoje? Hoje, ele se serve de mim para chamar Você! Convido-o, pois, a conhecê-lo!
É verdade: não foi fácil para os discípulos entender a "lógica" do Mestre, mas afinal tomaram consciência de que fora dele não haveriam de encontrar palavras capazes de iluminá-los e dar forças para chegarem à plenitude de vida que Jesus lhes indicara.
E não só eles. Zaqueu, um publicano, isto é, coletor de impostos, era um exator que recebia as taxas para os romanos. Aos olhos do povo, um "colaboracionista", um traidor, desprezado e odiado pelos judeus "verdadeiros". Pois bem, esse Zaqueu, traidor e desonesto, ouve dizer que Jesus está a entrar em Jericó. Tinha ouvido falar desse homem. Sente em seu interior uma forte atração: gostaria de conhecer ou, ao menos, ver Jesus. Deixa a banca dos impostos e corre para onde a multidão se aglomera ao redor do Mestre. Há muita gente e ele, pequeno de estatura, mesmo saltando, não consegue ver realmente nada. Corre, então, mais à frente e sobe numa árvore. O rico, poderoso e certamente odiado Zaqueu, vai empoleirar-se entre os ramos de um sicômoro. Seu grande desejo fez com que deixasse a dignidade de lado e se tornasse ridículo aos olhos do povo. Todos riem dele; também Jesus deve ter sorrido, mas depois, perscrutando a fundo o seu coração, diz-lhe: "Zaqueu, desça daí, porque hoje devo ficar em sua casa". Zaqueu desce e corre para casa.
As autoridades religiosas de Jericó e os judeus tradicionalistas ficam aborrecidos, furiosos e ofendidos. Todos murmuram e dizem: "Foi à casa de um pecador!". Estão chocados e têm a impressão de nada entender. O mundo está revirado: o Messias na casa de pecadores!
Jesus, porém, sempre age assim. Revira o nosso mundo egoísta e hipócrita, embaralha tudo e não se importa com a ordem constituída. Revolve os valores estabelecidos, para pôr em seu lugar uma ordem social inteiramente nova.
Jesus está na casa de Zaqueu e não lhe pede para deixar a mulher, ou vender a casa, ou distribuir os bens aos pobres e segui-lo. Só diz: "Hoje devo ficar com você".
Os chamados de Jesus são de dois tipos. Ao jovem rico, ele diz: "Volte à sua casa, venda todos os seus bens e siga-me. Não leve bagagem, ela de nada lhe servirá, eu pensarei em você. Eu serei o seu Bem". A Zaqueu, porém, diz: "Hoje devo ficar com você". Este chamado não é mais fácil do que o primeiro. De fato, transforma todo o modo de ser e viver de Zaqueu.
Quando Jesus diz querer viver conosco, e nós o recebemos em nossa casa, então muitas coisas mudam em nós e o nosso modo de viver se revoluciona. Quando acolhemos Jesus em nossa vida, Ele nos livra de tudo que não seja Deus.
Só uma coisa importa: acolhê-lo! Por isso, é preciso estar preparado e vigilante: no momento em que recebe o seu chamado, você tem a possibilidade de ser uma pessoa livre, capaz de dispor de si mesmo para pôr a sua vida a serviço dele e dos outros.

"Acredita mesmo que Deus precisa de nós?"
Inicialmente, Jesus quis alguns homens ao seu redor: doze amigos, uma comunidade, um povo. Depois, faz muito mais: apresenta-se a si mesmo e a Igreja como uma videira: "Eu sou a videira verdadeira. Permaneçam unidos a mim, e eu ficarei unido a vocês. Como o ramo não pode dar fruto sozinho, separado da videira, vocês também não podem dar fruto se não permanecerem unidos a mim. Eu sou a videira. Vocês são os ramos. Se alguém permanece unido a mim e eu a ele, produz muito fruto; sem mim, vocês nada podem fazer".
Nele e em seus amigos corre o mesmo sangue. "Eu e vocês somos uma coisa só", afirma. "Este é o sinal para nos reconhecermos: chama-se Eucaristia. Somos o mesmo corpo. Em nós corre o mesmo sangue. Ora, vocês são as minhas mãos, os meus pés e o meu coração".
Depois de o terem crucificado, seus inimigos pensavam: nós o eliminamos! Pusemos, de uma vez por todas, uma pedra sobre Jesus de Nazaré. Entretanto, não se pode impedir de o sol nascer. Não é possível impedir de ser Vida aquele que é a fonte da Vida. Nada é mais vivo do que Deus. E naquela última noite, na Eucaristia, Jesus diz: "Agora, vocês e eu somos uma coisa só!" Jesus está vivo em nós!
Caros Jovens, vocês poderão ser gênios, organizadores, inventores, gente famosa, homens e mulheres de sucesso... Tudo isso, porém, não é nada diante da possibilidade de ser um instrumento nas mãos de Deus.
Vocês não podem ter uma vida estéril, que envelhece um pouco a cada dia. Mas podem encher-se de frutos. É a responsabilidade de vocês: "Meu Pai é o agricultor – explica Jesus – Todo ramo que está em mim e não dá fruto, ele o corta e joga fora, e os ramos que dão fruto, ele limpa de tudo que possa impedir de dar frutos abundantes. Vocês já estão livres graças à Palavra que lhes anunciei".
Vocês podem ser a boca pela qual Deus continua a falar aos seres humanos, instrumentos para anunciar a verdadeira liberdade. Podem ser os olhos que sabem ver na escuridão do mundo para depois indicar aos outros a presença de Deus e o seu Reino. Podem ser os ouvidos que, entre os rumores e as músicas dos iPod, conseguem ouvir o que não parece mais audível: a voz de quem chora, de quem pede ajuda, de quem implora por respeito e dignidade, de quem pede justiça e pão. Podem ser as mãos e os pés que vão ao encontro das pessoas para aliviá-las e pô-las novamente em pé no nome de Jesus. Vocês descobrirão, então, que receberam muito mais de quanto conseguiram dar.
Esse é o segredo da felicidade. "A felicidade está do outro lado, do lado que vocês nem sequer imaginam, diz Jesus. A felicidade só se constroi com Deus".
Isso já fora anunciado por uma jovem judia de Nazaré, a sua mãe, antes que ele nascesse: "Cantarei a mais bela canção para o meu Deus, porque Ele é poderoso. Fez em mim coisas grandiosas, o seu nome é santo. Sua misericórdia permanece para sempre com aqueles que o servem. Ele comprovou o seu poder, destruiu os soberbos com seus projetos. Derrubou os poderosos do trono, elevou os oprimidos da terra. Encheu de bens os pobres, mandou embora os ricos, com as mãos vazias".
Deus está do lado dos vencidos, dos pobres, dos atormentados, dos puros e dos pacíficos. "Os pobres são felizes, alegres, bem-aventurados, em paz, em harmonia consigo mesmos, com o mundo e com Deus, porque têm as mãos e o coração abertos para acolherem os dons de Deus e têm confiança na sua força. Bem-aventurados aqueles que têm o coração puro, que não conhecem o egoísmo, que não giram ao redor de si mesmos, mas olham para Deus. Bem-aventurados aqueles que constroem a paz e lutam pela justiça".
"Vocês são o sal da terra e podem impedir, então, que o mundo se corrompa. Vocês devem ser tochas acesas porque ainda há muita escuridão no mundo. Não lhes é pedido para só levarem uma lâmpada. Vocês devem ser a luz! Vocês devem ser o fogo e, para iluminar, devem consumir-se a si mesmos, como um tronco que arde".
Bem-aventurados são vocês se decidirem caminhar com Jesus, se aceitarem o risco de transformar em luz os próprios sonhos; mas serão felizes, sobretudo, se permanecerem nele e não simplesmente com Ele. Livres para produzir frutos, isto é, obras visíveis de amor concreto, feito de verdade, dedicação, sacrifício total da vida, se for necessário.
Na última noite, Jesus levantou-se, tirou o manto e amarrou uma toalha à cintura. Depois, derramou água numa bacia e pôs-se a lavar os pés aos discípulos e enxugá-los com a toalha. Como faziam os escravos. Logo em seguida disse: "Aquilo que eu fiz, façam vocês também uns aos outros".
Formem um povo de pessoas que se amam, para que, vendo-os, os outros comecem a crer em Deus.
Nós somos um povo novo. Nós somos a Família de Deus, nós somos a verdadeira videira tratada com amor pelo Pai. Recebemos a linfa do Espírito de Jesus e somos os ramos que produzem fruto... Nós nos chamamos Bento de Nórcia, Francisco de Assis, Domingos de Gusmão, Inácio de Loiola, Teresa de Jesus, Francisco de Sales, Dom Bosco, Madre Mazzarello, Padre Rua, Domingos Sávio, Laura Vicuña, Dom Versiglia, Calisto Caravário, José Calasanz, José Kowalski, Zeferino Namuncurá, Jovens Mártires do Oratório de Poznań, Piergiorgio Frassati, Madre Teresa de Calcutá, Damião de Veuster, José Quadrio, Nino Baglieri... Nós… somos muitos. Uma Família que acolhe todos os dias a Palavra. Uma videira que oferece todos os dias os frutos do espírito.
Caminhem, então, de cabeça erguida. Vocês têm a vida nas mãos. Vocês têm plena consciência de vocês mesmos. Fiquem em pé, mesmo sozinhos, mesmo diante de uma multidão. Abaixem-se apenas perante Deus e para levantar aqueles que caíram. Amem a Deus de todo o coração e as pessoas que vivem junto de vocês como a si mesmos.
Jesus conclui o discurso na montanha com estas palavras. "Quem põe em prática o que eu digo é uma pessoa prudente: construiu sua casa sobre a rocha. Quando veio um furacão e os rios transbordaram e a tempestade abateu-se sobre a casa, ela permaneceu intacta, pois suas fundações foram feitas na rocha".
"Quem, porém, ouve as minhas palavras e não as põe em prática, é um tolo como aquele que construiu sua casa na areia. Quando veio a chuva e os rios transbordaram e a tempestade enfureceu-se sobre a casa, ela se partiu e acabou em pedaços".
Preocupem-se com vocês mesmos: construam a própria vida sobre a rocha, caso contrário, acabarão aos pedaços.

"Padre Pascual, Jesus pretende isso tudo de nós?"
Servir a Deus é muito simples. Deus não é um tirano. Deus fala com vocês como pai e amigo.
"Não foram vocês que me escolheram por amigo; fui eu que os escolhi e os fiz meus amigos. Assim, o trabalho de vocês crescerá e produzirá frutos que haverão de durar para a eternidade. Se seguirem o caminho indicado por mim – diz Jesus – vocês verão que é belo pertencer a Deus e o fardo que a fé lhes pede para carregar não é pesado".
É preciso retomar o fôlego, levantar-se, sentir-se gente livre. A minha mensagem é um convite à festa. A vida de vocês é feita para a festa, e todos nós estamos caminhando para uma festa. O futuro é uma mesa cheia de alegria entre amigos, e Deus fará a festa conosco.
Jesus diz que a sua palavra é semeada dentro de vocês, como num campo, mas o coração humano é um terreno árido e complicado, marcado pela dureza e sufocado por matagais cheios de espinho.
Contudo, o campo são vocês. Se começarem a dar ouvidos à Palavra, poderão encontrar algo de precioso.
Poderão encontrar, antes de tudo, a vocês mesmos. E encontrarão a Deus dentro de vocês. "Não tenham medo, contudo nada poderão fazer sem ele. E ele precisa de vocês".
Ele nos conhece muito bem, precisamente como somos. Conhece o mundo singular de trevas e de luz que vive dentro de nós. Conhece melhor do que nós a misteriosa mistura de que somos feitos.
Ele sabe do que somos capazes. Os outros podem se desiludir, porque tiveram sonhos a nosso respeito e nos projetam em seu ideal. Deus, porém, jamais se desilude. Porque eu sou aquele a quem Ele ama, como sou hoje...!
Deus não vive no futuro, nem no passado, mas no presente. Ele é o presente e me vê na minha realidade atual.
Também os amigos de Jesus pensavam que fosse preciso ser grandes e poderosos para construir o Reino de Deus; ele, entretanto, disse: "Para serem úteis a Deus, vocês devem ser pequenos, como uma criança".
A criança é um ser que ainda tem o próprio futuro diante de si. A criança é feita de sonhos e de confiança.
Caminhem íntegros, de cabeça erguida. Vocês têm um futuro à frente e vale a pena ir ao encontro dele. As crianças são frágeis: o que mais lhes falta é, sobretudo, a força. Entretanto, elas têm confiança. E quando tudo vai bem, sabem que são amadas.
Vocês têm diante de si o futuro. Vocês têm uma palavra a dizer em suas vidas e com as suas vidas. Uma palavra de consolação, uma palavra libertadora, uma palavra de esperança, aberta ao futuro. Tenham a coragem de pronunciá-la. Tenham a coragem de ser o que são e sejam-no integralmente: pessoas autênticas, livres, com uma vocação.
Não tenham medo! Vamos com coragem para a outra margem.
O oceano de perigos e ameaças é realmente muito grande e a nossa barca é pequena e frágil. Em nossa barca, porém, levamos Jesus, o Filho de Deus. Quem nos pode causar medo?
Caros jovens, eu lhes quero bem e ouço o pedido de fazê-los conhecer a Jesus. Eu os fiz vê-lo e os levei até ele. Desejo agora que possam confessar como os discípulos do Batista: "Nós encontramos o Cristo", e esforcem-se para levar outros até Jesus.
Concluo deixando-os com uma oração do Cardeal Newman. Apropriem-se dela e traduzam-na em programa de vida.
NAS TUAS MÃOS
Coloco-me, Senhor, em tuas mãos, inteiramente.
Tu me criaste para ti.
Já não quero pensar em mim,
mas só em seguir-te.
O que queres que eu faça?
Permite-me caminhar contigo,
acompanhar-te sempre,
na alegria e na dor.
Entrego-te desejos, prazeres,
fragilidades, projetos, pensamentos
que me retêm longe de ti
e me dobram continuamente sobre mim.
Faz de mim o que quiseres!
Não discuto o preço.
Não procuro saber antecipadamente
os teus planos sobre mim,
quero o que tu queres para mim.
Não digo: "Eu te seguirei aonde quer que vás!",
porque sou frágil.
Entrego-me a ti, porém, para que tu me conduzas.
Quero seguir-te na escuridão,
só te peço a força necessária.
Senhor, faz com que leve tudo para diante de ti,
e busque o que te agrada
em todas as minhas decisões
e a tua bênção sobre todas as minhas ações.
Assim como a meridiana só indica as horas
com o sol,
assim também eu quero ser orientado por ti:
tu queres guiar-me e servir-te de mim.
Assim seja, Senhor Jesus!
(card. J. H. Newman )
Com afeto e grande estima.
Roma, 31 de janeiro de 2010.
P. Pascual Chávez V., SDB
Reitor-Mor

Carta do Papa Bento XVI aos Jovens

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA A XXV JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
28 MARÇO 2010)

«Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» (Mc 10, 17)

Queridos amigos,

Celebra-se este ano o vigésimo quinto aniversário de instituição da Jornada Mundial da Juventude, desejada pelo Venerável João Paulo II como encontro anual dos jovens crentes do mundo inteiro. Foi uma iniciativa profética que deu frutos abundantes, permitindo às novas gerações cristãs encontrar-se, pôr-se à escuta da Palavra de Deus, descobrir a beleza da Igreja e viver experiências fortes de fé que levaram muitos à decisão de doar-se totalmente a Cristo.
Esta XXV Jornada representa uma etapa rumo ao próximo Encontro Mundial dos Jovens, que terá lugar no mês de Agosto de 2011 em Madrid, onde espero sejais numerosos a viver este evento de graça.
Para nos prepararmos para tal celebração, gostaria de vos propor algumas reflexões sobre o tema deste ano: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» (Mc 10, 17), tirado do episódio evangélico do encontro de Jesus com o jovem rico; um tema abordado já em 1985 pelo Papa João Paulo II numa belíssima Carta, a primeira dirigida aos jovens.

1. Jesus encontra um jovem

«Quando saía [Jesus], para se pôr a caminho – narra o Evangelho de São Marcos – aproximou-se dele um homem a correr e, ajoelhando-se, perguntou: “Bom mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?”. Jesus disse-lhe: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus. Sabes os mandamentos: não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não defraudarás, honrarás teu pai e tua mãe”. Ele respondeu-lhe: “Mestre, tenho guardado tudo isto desde a minha juventude”. Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele, e respondeu-lhe: “Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me!”. Mas, ao ouvir tais palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, pois tinha grande fortuna» (Mc 10, 17-22).
Esta narração exprime de maneira eficaz a grande atenção de Jesus pelos jovens, por vós, pelas vossas expectativas, pelas vossas esperanças, e mostra como é grande o seu desejo de vos encontrar pessoalmente e entrar em diálogo com cada um de vós. Com efeito, Cristo interrompe o seu caminho para responder ao pedido do seu interlocutor, manifestando plena disponibilidade àquele jovem, que é impelido por um ardente desejo de falar com o «Bom Mestre», para aprender dele a percorrer o caminho da vida. Com este trecho evangélico, o meu Predecessor queria exortar cada um de vós a «desenvolver o próprio diálogo com Cristo – um diálogo que é de importância fundamental e essencial para um jovem» (Carta aos jovens, n. 2).
2. Jesus fitou-o e sentiu afeição por ele
Na narração evangélica, São Marcos sublinha como «Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele» (Mc 10, 21). No olhar do Senhor, está o coração deste encontro muito especial e de toda a experiência cristã. Com efeito, o cristianismo não é primariamente uma moral, mas experiência de Jesus Cristo, que nos ama pessoalmente, jovens ou idosos, pobres ou ricos; ama-nos mesmo quando lhe voltamos as costas.
Comentando a cena, o Papa João Paulo II acrescentava, dirigindo-se a vós, jovens: «Faço votos por que experimenteis um olhar assim! Faço votos por que experimenteis a verdade de que Ele, Cristo, vos fixa com amor» (Carta aos jovens, n. 7). Um amor, que se manifestou na Cruz de maneira tão plena e total, que São Paulo escreve maravilhado: «Amou-me e entregou-se por mim» (Gl 2, 20). «A consciência de que o Pai nos amou desde sempre no seu Filho, de que Cristo ama cada um e sempre – escreve ainda o Papa João Paulo II – torna-se um ponto de apoio firme para toda a nossa existência humana» (Carta aos jovens, n. 7) e permite-nos superar todas as provas: a descoberta dos nossos pecados, o sofrimento, o desânimo.
Neste amor, encontra-se a fonte de toda a vida cristã e a razão fundamental da evangelização: se verdadeiramente encontramos Jesus, não podemos deixar de testemunhá-lo àqueles que ainda não se cruzaram com o seu olhar.
3. A descoberta do projeto de vida
No jovem do Evangelho, podemos vislumbrar uma condição muito semelhante à de cada um de vós. Também vós sois ricos de qualidades, energias, sonhos, esperanças: recursos que possuís em abundância! A vossa própria idade constitui uma grande riqueza não apenas para vós, mas também para os outros, para a Igreja e para o mundo.
O jovem rico pergunta a Jesus: «Que devo fazer?» A estação da vida em que vos encontrais é tempo de descoberta: dos dons que Deus vos concedeu e das vossas responsabilidades. É, igualmente, tempo de opções fundamentais para construir o vosso projeto de vida. Por outras palavras, é o momento de vos interrogardes sobre o sentido autêntico da existência, perguntando a vós mesmos: «Estou satisfeito com a minha vida? Ou falta-me ainda qualquer coisa»?
Como o jovem do Evangelho, talvez vós vivais também situações de instabilidade, de perturbação ou de sofrimento, que vos levam a aspirar a uma vida não medíocre e a perguntar-vos: em que consiste uma vida bem sucedida? Que devo fazer? Qual poderia ser o meu projeto de vida? «Que devo fazer a fim de que a minha vida tenha pleno valor e pleno sentido?» (Ibid., n. 3).
Não tenhais medo de enfrentar estas perguntas! Longe de vos acabrunhar, elas exprimem as grandes aspirações, que estão presentes no vosso coração. Portanto, devem ser ouvidas. Esperam respostas não superficiais, mas capazes de satisfazer as vossas autênticas expectativas de vida e felicidade.
Para descobrir o projeto de vida que vos pode tornar plenamente felizes, colocai-vos à escuta de Deus, que tem um desígnio de amor sobre cada um de vós. Com confiança, perguntai-lhe: «Senhor, qual é o teu desígnio de Criador e Pai sobre a minha vida? Qual é a tua vontade? Desejo cumpri-la». Estai certos de que vos responderá. Não tenhais medo da sua resposta! «Deus é maior que os nossos corações e conhece tudo» (1 Jo 3, 20)!
4. Vem e segue-me!
Jesus convida o jovem rico a ir mais além da satisfação das suas aspirações e dos seus projetos pessoais, dizendo-lhe: «Vem e segue-me!». A vocação cristã deriva de uma proposta de amor do Senhor e só pode realizar-se graças a uma resposta de amor: «Jesus convida os seus discípulos ao dom total da sua vida, sem cálculos nem vantagens humanas, com uma confiança sem reservas em Deus. Os santos acolhem este convite exigente e, com docilidade humilde, põe-se a seguir Cristo crucificado e ressuscitado. A sua perfeição na lógica da fé, às vezes humanamente incompreensível, consiste em nunca se colocarem a si mesmos no centro, mas decidirem ir contra a corrente, vivendo segundo o Evangelho» (Bento XVI, «Homilia por ocasião das canonizações», in L'Osservatore Romano, 12-13/X/2009, pág. 6).
A exemplo de muitos discípulos de Cristo, acolhei também vós, queridos amigos, com alegria o convite a seguir Jesus, para viverdes intensa e fecundamente neste mundo. Com efeito, mediante o Batismo, Ele chama cada um a segui-lo com ações concretas, a amá-lo sobre todas as coisas e a servi-lo nos irmãos. Infelizmente, o jovem rico não acolheu o convite de Jesus e retirou-se pesaroso. Não encontrara coragem para se desapegar dos bens materiais a fim de possuir o bem maior proposto por Jesus.
A tristeza do jovem rico do Evangelho é aquela que nasce no coração de cada um, quando não tem a coragem de seguir Cristo, de fazer a escolha justa. Mas nunca é tarde demais para lhe responder!
Jesus nunca se cansa de estender o seu olhar de amor sobre nós, chamando-nos a ser seus discípulos; a alguns, porém, Ele propõe uma opção mais radical. Neste Ano Sacerdotal, gostaria de exortar os jovens e adolescentes a estarem atentos para ver se o Senhor os convida a um dom maior, no caminho do sacerdócio ministerial, e a tornarem-se disponíveis para acolher com generosidade e entusiasmo este sinal de predileção especial, empreendendo, com a ajuda de um sacerdote, do diretor espiritual, o necessário caminho de discernimento. Depois, não tenhais medo, queridos jovens e queridas jovens, se o Senhor vos chamar à vida religiosa, monástica, missionária ou de especial consagração: Ele sabe dar alegria profunda a quem responde com coragem.
E, a quantos sentem a vocação ao matrimônio, convido a acolhê-la com fé, comprometendo-se a lançar bases sólidas para viver um amor grande, fiel e aberto ao dom da vida, que é riqueza e graça para a sociedade e para a Igreja.
5. Orientados para a vida eterna
«Que devo fazer para alcançar a vida eterna?»: esta pergunta do jovem do Evangelho parece distante das preocupações de muitos jovens contemporâneos; porventura, como observava o meu Predecessor, «não somos nós a geração cujo horizonte da existência está completamente preenchido pelo mundo e pelo progresso temporal?» (Carta aos jovens, n. 5). Mas a questão acerca da «vida eterna» impõe-se em momentos particularmente dolorosos da existência, como quando sofremos a perda de uma pessoa querida ou experimentamos o insucesso.
Mas o que é a «vida eterna», de que fala o jovem rico? Jesus no-lo explica quando, dirigindo-se aos seus discípulos, afirma: «Hei de ver-vos de novo; e o vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16, 22). São palavras que indicam uma proposta sublime de felicidade sem fim: a alegria de sermos cumulados pelo amor divino para sempre.
O interrogar-se sobre o futuro definitivo que nos espera dá sentido pleno à existência, porque orienta o projeto de vida não para horizontes limitados e passageiros mas amplos e profundos, que levam a amar o mundo, tão amado pelo próprio Deus, a dedicar-se ao seu desenvolvimento, mas sempre com a liberdade e a alegria que nascem da fé e da esperança. São horizontes que nos ajudam a não absolutizar as realidades terrenas, sentindo que Deus nos prepara um bem maior, e a repetir com Santo Agostinho: «Desejemos juntos a pátria celeste, suspiremos pela pátria celeste, sintamo-nos peregrinos aqui na terra» (Comentário ao Evangelho de São João, Homilia 35, 9). Com o olhar fixo na vida eterna, o Beato Pier Giorgio Frassati – falecido em 1925, com a idade de 24 anos – dizia: «Quero viver; não ir vivendo!» e, numa fotografia a escalar uma montanha que enviou a um amigo, escrevera: «Rumo ao alto!», aludindo à perfeição cristã mas também à vida eterna.
Queridos jovens, exorto-vos a não esquecer esta perspectiva no vosso projeto de vida: somos chamados à eternidade. Deus criou-nos para estar com Ele, para sempre. Aquela ajudar-vos-á a dar um sentido pleno às vossas decisões e a dar qualidade à vossa existência.
6. Os mandamentos, caminho do amor autêntico
Jesus recorda ao jovem rico os dez mandamentos como condições necessárias para «alcançar a vida eterna». Constituem pontos de referência essenciais para viver no amor, para distinguir claramente o bem do mal e construir um projeto de vida sólido e duradouro. Também a vós, Jesus pergunta se conheceis os mandamentos, preocupando-vos em formar a vossa consciência segundo a lei divina, e se os pondes em prática.
Sem dúvida, trata-se de perguntas contra a corrente em relação à mentalidade contemporânea, que propõe uma liberdade desligada de valores, de regras, de normas objetivas, e convida a não colocar limites aos desejos do momento. Mas este tipo de proposta, em vez de conduzir à verdadeira liberdade, leva o homem a tornar-se escravo de si mesmo, dos seus desejos imediatos, de ídolos como o poder, o dinheiro, o prazer desenfreado e as seduções do mundo, tornando-o incapaz de seguir a sua vocação natural ao amor.
Deus dá-nos os mandamentos, porque nos quer educar para a verdadeira liberdade, porque quer construir conosco um Reino de amor, de justiça e de paz. Ouvi-los e pô-los em prática não significa alienar-se, mas encontrar o caminho da liberdade e do amor autênticos, porque os mandamentos não limitam a felicidade, mas indicam o modo como encontrá-la. No início do diálogo com o jovem rico, Jesus recorda que a lei dada por Deus é boa, porque «Deus é bom».
7. Temos necessidade de vós
Quem vive hoje a condição juvenil encontra-se a enfrentar muitos problemas resultantes do desemprego, da falta de referências ideais certas e de perspectivas concretas para o futuro. Às vezes pode-se ficar com a impressão de impotência diante das crises e derivas atuais. Apesar das dificuldades, não vos deixeis desencorajar nem renuncieis aos vossos sonhos! Pelo contrário, cultivai no coração desejos grandes de fraternidade, de justiça e de paz. O futuro está nas mãos de quem souber procurar e encontrar razões fortes de vida e de esperança. Se quiserdes, o futuro está nas vossas mãos, porque os dons e as riquezas que o Senhor guardou no coração de cada um de vós, plasmados pelo encontro com Cristo, podem dar esperança autêntica ao mundo! É a fé no seu amor que, tornando-vos fortes e generosos, vos dará a coragem de enfrentar com serenidade o caminho da vida e assumir as responsabilidades familiares e profissionais. Comprometei-vos a construir o vosso futuro através de percursos sérios de formação pessoal e de estudo, para servir o bem comum de maneira competente e generosa.
Na recente Carta Encíclica sobre o desenvolvimento humano integral, Caritas in veritate, enumerei alguns dos grandes desafios atuais que são urgentes e essenciais para a vida deste mundo: a utilização dos recursos da terra e o respeito pela ecologia, a justa repartição dos bens e o controle dos mecanismos financeiros, a solidariedade com os países pobres no âmbito da família humana, a luta contra a fome no mundo, a promoção da dignidade do trabalho humano, o serviço à cultura da vida, a construção da paz entre os povos, o diálogo inter-religioso, o bom uso dos meios de comunicação social.
São desafios a que sois chamados a responder para construir um mundo mais justo e fraterno. São desafios que requerem um projeto de vida exigente e apaixonante, no qual investir toda a vossa riqueza, segundo o desígnio que Deus tem para cada um de vós. Não se trata de realizar gestos heróicos ou extraordinários, mas de agir fazendo frutificar os próprios talentos e possibilidades, comprometendo-se a progredir constantemente na fé e no amor.
Neste Ano Sacerdotal, convido-vos a conhecer a vida dos santos, em particular a dos santos sacerdotes. Vereis que Deus os guiou, tendo encontrado o seu caminho dia após dia precisamente na fé, na esperança e no amor. Cristo chama cada um de vós a comprometer-se com Ele e a assumir as próprias responsabilidades para construir a civilização do amor. Se seguirdes a sua Palavra, também o vosso caminho se iluminará e vos conduzirá rumo a metas elevadas, que dão alegria e sentido pleno à vida.
Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja, vos acompanhe com a sua proteção. Asseguro-vos uma lembrança particular na minha oração e, com grande afeto, vos abençoo.
Vaticano, 22 de Fevereiro de 2010